
CHEGANÇA DE SAUBARA
As Cheganças, também conhecidas como Marujadas, são uma manifestação cultural que resiste ao tempo, carregando simbolismos, história, cultura, e a memória material e imaterial de um povo. Essa tradição, segundo os participantes, surgiu de uma promessa feita após um barco virar e os marujos clamarem por salvação. É uma dramatização das lutas marítimas trágicas vividas pelos marujos, cantada por homens simples, principalmente pescadores, que interpretam com sentimentos poemas épicos de uma época longínqua, mas que ainda vive na alma dessa gente. É uma manifestação religiosa e popular, que vem de um processo de transformações ao longo dos anos, acontecendo todos os anos. Danças coreografadas, figurino, cantigas entoadas durante o trajeto da Chegança denotam a vitalidade dessa tradição que se renova.
Existem diversos grupos de Chegança na Bahia, em cidades como Jacobina, Patatinga, sempre cantada, em prosa e em verso, a epopeia da marujada. Em Saubara, a Chegança se apresenta tradicionalmente no dia 4 de agosto, em homenagem ao padroeiro da cidade, São Domingos de Gusmão.
HISTÓRIA
A Chegança de Saubara propõe uma releitura da reconstrução cultural e artística de origem portuguesa, evocando a memória da guerra pela independência da Bahia em 1823, na qual a cidade participou indiretamente.
O primeiro grupo da cidade foi “Marujos da Fragata Brasileira”, que segundo relatos dos mais antigos, formam um grupo centenário. Mesmo sendo um dos mais importantes movimentos culturais da cidade, situada no Recôncavo Baiano, a Chegança ficou desativada por muito tempo, sem que se saiba ao certo por quanto tempo. Apenas em 1977, alguns remanescentes saudosos resolveram se juntar e recriar a Chegança, fazendo sua primeira reaparição em 4 de agosto de 1978, data escolhida por ser o dia de São Domingos de Gusmão. Desde então, a presença da Chegança vem sendo sacramentada nestes festejos.
ENREDO, PERSONAGENS E CARACTERIZAÇÃO
Saubara, assim como outras cidades do Recôncavo Baiano, tem muitas festas associadas à memória da guerra pela independência da Bahia. A música que inicia a apresentação da "Fragata Brasileira" fala do Baixo de Pirajá, em Salvador, onde ocorreu a última batalha pela Independência do Brasil.
Durante a apresentação da Chegança, episódios dramáticos conhecidos como “resingas” são apresentados, recriando os conflitos nas embarcações durante as viagens marítimas. Um desses momentos destaca-se com a história do guarda-marinha acusado de contrabando, detido pelo general até que sua inocência seja explicada. Após ser liberado, ele se junta aos demais marujos em uma celebração pela paz no mar. A Chegança transporta seus participantes para o imaginário das grandes navegações através de danças coreografadas, figurinos detalhados e cantigas que evocam a vitalidade dessa tradição.
As cantorias da Chegança narram a história de uma marinha de guerra genuinamente brasileira que desempenhou papel crucial na guerra de independência da Bahia, defendendo a Baía de Todos os Santos contra invasores estrangeiros. Essas histórias são contadas por meio de canções acompanhadas por uma orquestra de pandeiros, apresentando oito ritmos distintos e mais de cinquenta composições. Além dos aspectos bélicos, a Chegança possui forte conotação religiosa, destacando-se a emocionante reverência a Nossa Senhora na igreja local.
DESAFIOS
As Cheganças enfrentam desafios multifacetados para manterem-se como manifestações vivas da cultura popular. Financeiramente, enfrentam dificuldades para garantir financiamento constante que sustente suas atividades ao longo do ano. Além disso, a competição com formas de entretenimento digital tem desafiado a capacidade de atrair e engajar novas gerações, que muitas vezes estão mais conectadas com mídias digitais do que com tradições culturais locais. As mudanças sociais e urbanas também impactam, alterando o tecido das comunidades onde essas manifestações são enraizadas, o que pode afetar negativamente a participação e o apoio local.
CONCLUSÃO
A Chegança de Saubara propõe uma releitura da reconstrução cultural e artística popular de origem portuguesa, em memória às lutas pela independência do país, misturando fé e prazer profano em homenagem ao padroeiro da cidade. A valorização dos aspectos de herança, em detrimento dos costumes e hábitos da cultura popular, é tida na Chegança de Saubara como uma cultura nascida das vivências populares, onde naturalmente se transmite e preserva a herança material e imaterial ligada às manifestações resistência e lutas pela sobrevivência dessa tradição.




